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Homenagem a João Gilberto Noll

Dias múltiplos e nunca comuns

Helenice Trindade de Oliveira
para João Gilberto Noll

 

Disfarçando ausências e semeando desejos: entre os livros usados de um sebo (re)conheci João Gilberto Noll. Neste dia comprei o seu livro “Mínimos, Múltiplos, Comuns “. Um tempo depois, como um roteiro cinematográfico, esbarramos na porta de entrada no mesmo lugar. A visão daquele homem com um longo casaco subindo a ladeira ficou emoldurada na minha memória para sempre.

 

Anos depois a literatura e o acaso reservaram para mim o melhor dos encontros. Na noite chuvosa de inverno no centro de Porto Alegre, substituindo o escritor anunciado, João leu Clarice Lispector em tom pausado e interpretativo. Ali estava um escritor que mudaria a minha vida literária para sempre.

 

Suspendi temporariamente o curso de formação de escritores na Metamorfose para sentar e contemplar a lucidez daquele autor delirante por dois meses.

 

Resolvi sair da infância, da insegurança e lançar o meu coração e a minha escrita ao mar aberto.

 

João organizou meus anos desperdiçados à cata de outros desejos e metamorfoseou o que identificou de melhor na minha criatividade. Rimos e conversamos sobre a vida e criação literária como fazem as velhas amizades, embora a nossa tivesse iniciado naqueles dias. Certas pessoas são capazes de perceber inspirações subjetivas, João foi uma delas. Com sutilezas sintáxicas, ele foi aprimorando meus “temas de casa” e meus contos foram desencarnando. Um projeto literário foi sendo construído.

 

- Publique Helenice, tens que começar. Publique.

 

Sugerindo temas foi experimentando, me conhecendo.

 

Eu vivendo a primeira mordida da fome.

 

Autografando meus-seus livros, crescemos juntos, inicialmente do abraço sincero e fraterno à declaração do prazer em me ver criando como uma talentosa oficinanda, ou profetizando uma escritora erótica que um dia posso ser.

 

Agradeço aos céus os acasos e por não ter decifrado o enigma que foi (é) João Gilberto Noll.

 

OBRIGADA JOÃO, leve para a eternidade todos os personagens que viveram na tua literatura.

 

Cá viverei cercada de “Mínimos, múltiplos e nunca comuns dias” depois de ter convivido contigo.

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Helenice Trindade de Oliveira participa do Curso Livre de Formação de Escritores da Metamorfose e foi aluna de João Gilberto Noll em oficinas promovidas pelo autor.

30/03/2017

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